terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O Centro e o Eixo

No mundo musical das clarezas
O forro é de mistura encantada
Dormente há uma ideia à cabeça -
A crase de uma pena adornada.

O pano do chapéu está vivo!
Reflete o pensamento da fibra,
Por vezes pela sombra do aflito
Soletra em um soslaio uma lira.

A mente aureolada envolta
Fomenta as labaredas da crista,
Concede a um escravo a coroa,

Faz fogo uma pequena faísca,
Depois por uma brisa revoa
Que alguém de muito longe avista.

Alexandre Machado Marques

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Ser

tempo

espaço

conteúdo.

Alexandre Machado Marques

Introdução

eu não sei como me nasce
eu não sei como me vive
eu não sei como me morre
eu não sei: como-me-inteiro

Alexandre Machado Marques

Balada do sétimo dia

Hoje domingo, acendo um cachimbo
Na brisa da noite alvorece a segunda -
È dia branco, é nuvem de nimbo
Vagando ligeira de tão vagabunda (…)

Na feira de terça acordo já cedo -
Buzinas gritantes ardendo de anseio.
Enquanto na quarta me apego ao terço
Pedindo à semana que alivie doseio.

A quinta espreguiça, se deita na cama (…)
Enfim chega sexta que há espero semanas
De lá fico tonto de tanto que bebo

E caiu sambando num sábado lindo.
No fado da farra esqueço do tempo (…)
Agora é domingo, acendo cachimbo.

Alexandre Machado Marques

Qualquer coisa

Nos lábios de quem diz
No gesto de quem ama
Sou qualquer cousa que fala
Nos olhos de quem ri
No sono de quem sonha
Sou qualquer coisa que sente
No seio de quem pulsa
Na veia de quem vive
Sou qualquer coisa que existe

Alexandre Machado Marques

sábado, 2 de junho de 2012

Mulher de Vênus



Nas luzes de rubras cores
Tu danças, formosa Vênus,
O aroma das flores doces
Nas águas de um mar sereno.

Lasciva como um suspiro,
Ardente em carne a fogo.
Devora os meus sentidos,
Me torna por vezes louco.

Senhora das noites quentes
Dos brilhos encantadores
Nem vês que um poeta sente
Nem ouve por seus clamores.

E assim sem poder tocá-la -
O fruto vermelho amêno.
Só posso me arder em vê-la
Na noite ao sabor do vento.

terça-feira, 20 de março de 2012

Metafísica

De todo o meu amor serei saudade;
Por tudo que já fôra e há de sê-lo,
De tudo que se encanta por havê-lo,
O puro sentimento da verdade.

Por ter-te essencialmente bom e puro,
Por ser naturalmente eterno e belo,
Surgindo em seu crepúsculo libelo,
De forma colossal em doce apuro.

Crisálida singela da alvorada,
Translúcida formosa alvinitente,
A lúcida garrida, a bruta rosa!

Desdobra majestosa transcendente
Em lívidos langores figurada
Nos céus em doce forma paira honrosa.


Alexandre Machado Marques

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Míope

A distância é asfixiante
E delonga como um suspiro
Que se esvai do aquém, doravante,
Se perder para além do sentido.

A saudade é asfixiante
O teu último alcance declara
Como fosse o teu sopro enervante
Que se perde em silêncio e deflagra.

A distância não pode ser vista,
Quanto é vaga de tão indizível!
Nunca foi por ninguém bem tão quista,

Pois é como a saudade - incabível.
E afasta de alguma conquista
Horizontes de um dia um possível.

Alexandre Machado Márquez

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O nascedouro

De gota em gota me persegue
Ao fim que o sol da tarde some -
Clamor tenaz que me apetece
O devaneio alucinante.

É a razão do meu lamento,
O meu langor mais dissonante
Que vela a noite em seu rebento
Em comoções embriagantes.

De linha em linha me consome
Na perdição dessa candura,
Nessas insônias relutantes,
Nos meus momentos de loucura.

É o espírito que grita;
Oh redentor amor vibrante!
Que me tomou por toda a vida
Quando nasceu naquele instante.

Alexandre Machado Márquez

Canção para tua chegada

Se for pra ser
Que seja assim -
Um dia enfim
De sol nascer.

Se for pra ser
Que seja amor
A quem sofreu,
A quem chorou.

Se for pra ser
Que seja enfim -
Um dia assim
Se acontecer.

Se for pra ser
Que seja amor
A quem se deu,
A quem chegou.

Alexandre Machado Márquez